Fruto da pesquisa acadêmica intitulada
"Reapresentação do feminino na dança flamenca
através do livro objeto", este projeto apresenta
sentimentos e emoções ligados ao tema, dando
à mulher o protagonismo da narrativa.
A experiência ultrapassa o simples manuseio do livro,
convidando à interação e à experimentação ao tentar
estabelecer relações sinestésicas.
"Reapresentação do feminino na dança flamenca
através do livro objeto", este projeto apresenta
sentimentos e emoções ligados ao tema, dando
à mulher o protagonismo da narrativa.
A experiência ultrapassa o simples manuseio do livro,
convidando à interação e à experimentação ao tentar
estabelecer relações sinestésicas.
Para fazer a referência ao feminino e ao flamenco, usou-se “bailaora”,
que identifica o gênero e o estilo de dança de forma simultânea.
O subtítulo “alma em movimento” surgiu da entrevista com Maribel Ramos,
que assim descreve a arte do baile – chegando a um título curto e com teor poético.
O movimento não é unicamente físico, pelo caráter do baile,
mas se refere ainda ao sentido evolutivo da dança – já que o flamenco é
uma arte em eterna ressignificação, ou seja, nunca estática.
O alongamento da letra B remete à leveza e à suavidade da dança, gerando sensação de fluidez e movimento. O restante da tipografia, embora sinuosa – tal como os movimentos femininos no flamenco – é espessa e bem delineada, compondo
o peso e a firmeza também esperados no estilo.
O destaque da letra S, além de determinar o plural, reforça a ideia destas mulheres como múltiplas.
Apresenta-se pendurada à palavra pelo entendimento – numa representação gráfica praticamente literal – de que uma bailaora “carrega” em si (ou consigo) muitas outras. Esta disposição de elementos funciona ainda como plural para movimento, agregando o sentido de variedade e diversidade que a dança permite.
O recurso dos QR Codes foi utilizado para propiciar
a interação e a comunicação entre plataformas analógicas e digitais,
fazendo a integração entre o livro físico e conteúdos online.
Com essa possibilidade, o leitor é dirigido a vídeos e outras mídias
que complementam a experiência de manuseio/leitura.
CONTEXTO HISTÓRICO
A narrativa do projeto permite acompanhar um pouco da
evolução histórica do baile flamenco feminino, ainda que
não a descreva textualmente período a período.
Além de breve contextualização sobre a tríade flamenca
(toque, cante, baile), o livro aborda questões
referentes às origens desta manifestação artística.
SCANIMATION
A técnica foi utilizada como mais um tipo de interação do livro.Consiste em uma espécie de animação
feita manualmente. Ao sobrepor uma folha translúcida listrada a uma imagem que contenha os frames
desejados fatiados, deve-se deslizar a primeira sobre a segunda para obter o efeito de movimento.
Isto ocorre porque as fatias da imagem têm largura e distância proporcional ao número de frames,
fazendo com que as listras escondam e revelem apenas um deles por vez.
PÁGINA DE VELUDO
que remete à mulher no contexto flamenco. Segundo Ana Real, transmite “suavidade” e “sobriedade”,
sendo um suporte capaz de comunicar (de modo visual e tátil) distintos atributos femininos no baile.
Sua materialidade se aproxima de sensações que dizem respeito muito mais ao intangível do que ao concreto,
mais ao emocional do que ao estético, criando um interessante jogo sinestésico
em que se tenta tornar palpáveis questões subjetivas.
A partir da fala da bailaora Maribel Ramos, surgiu a ideia de fazer referência ao formato do leque.
Além da alusão direta ao flamenco, faz uma analogia simbólica com a vida e com a abrangência da dança.
As felicidades e as tristezas por quais todos passam seriam os polos da vivência humana, estando entre
estes extremos as demais variedades de emoções e sentimentos – o que ocorre ainda nos palos,
que possuem letras alegres ou dramáticas e ganham distintas personificações de gestos,
movimentos e interpretações, de acordo com a mensagem que transmitem
Foi percebida uma característica da mecânica do leque
passível de ser aplicada variadamente na solução projetual – não
só de modo estético, mas conceitualmente: a sobreposição.
O adereço é compacto sem perder, no entanto, a capacidade de se expandir,
revelando mais de seu interior. Esta noção se repete no livro em diferentes contextos:
na própria mulher, que abriga em si diversas personalidades; e na dança flamenca,
que transmite em sua essência uma enorme gama de emoções.
Usou-se, então, três palavras centrais como conceito: revelar, descobrir e sobrepor.
TRANSPARÊNCIA
Utilizada como recurso para esconder e relevar, por exemplo, ou acrescentar e retirar
elementos gráficos à composição, a transparência gera dinamismo e surpresa. Estes efeitos se
aproximam ainda de características almejadas como sutileza, suavidade, leveza, etc.
O acetato cria uma dinâmica de manuseio de páginas que, pouco a pouco, despe uma bailaora
de seus adereços típicos: flor do cabelo, brincos, abanico e bata de cola, restando apenas
a sua própria essência que, conforme citado nas entrevistas, é suficiente
e já basta para transmitir uma verdade.
Ao longo do livro buscou-se uma desconstrução do dito “feminino” como forma de manifestar
o caráter questionador destas bailaoras, uma vez que quebraram barreiras impostas pelo gênero
para os modos de dançar; incorporaram em seus bailes movimentos tidos como exclusivamente masculinos;
adotaram o uso de figurinos antes não indicados para mulheres; e se tornaram mais participativas
em suas atuações, não mais se conformando com um papel Meramente decorativo.
As “transgressões” apontam para a evolução da imagem feminina na dança flamenca ao
longo da História e em muito contribuíram para a consolidação dos moldes atuais desta
arte, o que se traduz na imagem final do editorial, que aproxima estas mulheres de ontem e hoje.
Evidencia-se, desta forma, que tanto o papel estético e decorativo feminino quanto o mais
ativo e protagonista não se separam e podem até mesmo coexistir — assim como uma mesma mulher
pode incorporar estes dois potenciais, transitando entre os estilos. Fruto de uma construção,
elas não se abandonam: uma habita na outra.
